Este livro é fruto do projeto Contos e Crônicas do Sertão: Um Resgate da Memória Icoense, executado no ano de 2018 na cidade de Icó/CE, com apoio institucional e financeiro da Pró-reitoria de Cultura da Universidade Federal do Cariri (Procult/UFCA). Seu objetivo principal foi pautado na escrita de contos e crônicas que retratassem a memória dos habitantes da cidade, de modo que pudéssemos ressignificar parte do patrimônio imaterial de Icó.

A concepção para o projeto de cultura foi dada em 2014, quando a UFCA iniciou suas atividades no Campus Icó. Naquele ano, o Instituto de Estudos do Semiárido (IESA), unidade acadêmica abrigada por aquela unidade universitária, abriu as primeiras vagas para o Bacharelado em História, com ênfase em Gestão do Patrimônio. Logo nas primeiras semanas letivas, foi constatada a necessidade de se contribuir para a preservação do patrimônio local a partir da ação da universidade. A cidade, que é uma das mais antigas do Ceará, foi fundada pelos portugueses quando aqui estiveram. E deixaram um rico legado patrimonial que hoje pouco é preservado.

A disciplina Produção Textual, ofertada no primeiro semestre do curso, foi o receptáculo de muitas ideias de como uma ação da universidade poderia ser executada de maneira mais atrelada à realidade daquela cidade. Unindo essa lacuna à necessidade de formação ampla e de qualidade, aos alunos daquele componente curricular foi solicitado escreverem sobre como o patrimônio – material e imaterial – se inseria nas dinâmicas de Icó, sob cada ponto de vista. Como resultado, despontou a chance de se trabalhar a escrita acadêmica a partir desse viés.

No ano seguinte, em 2015, uma primeira versão dessa ação foi organizada, mas somente em 2018 todas as condições favoráveis para essa ação puderam ser reunidas. A Procult/UFCA oficializou o projeto como uma nova ação institucional da universidade, o que viabilizou sua execução. Além disso, financiou uma bolsa de estudos, fundamental para o planejamento e a execução das atividades previstas, bem como a escrita desta obra.

Os contos e as crônicas, dois tipos literários bastante populares aqui no Brasil, comumente reproduzem o cotidiano das pessoas. Um fragmento de memória, aqui e ali, faz germinar textos que, de tão próximos à realidade, parecem se misturar com o dia a dia, e inserir-se no mesmo plano das lendas e dos mitos. Um causo, de tão (re)contado, acaba se tornando uma verdade.

Esta é a nossa proposta: imortalizar parte da memória dos habitantes de Icó, ainda que de maneira ressignificada sob o formato de contos e crônicas. Por isso, conversamos com algumas personalidades locais, que muito gentilmente nos relataram um pouco de suas lembranças, e nos deram a chance de nos aproximar ainda mais de Icó. Ouvimos relatos que inspiraram a criação dos dez contos e crônicas contidos neste livro.

Os textos originados dessas memórias têm o poder de instigar a imaginação. Tal como Mia Couto magnificamente faz em seus contos, transitamos entre a realidade e a ficção, e não sabemos ao certo se estamos acordados ou caídos em um profundo sonho. Tentamos nos aproximar, por outro lado, do realismo incontestável e magistral de Eça de Queiros e de Machado de Assis para retratar uma Icó que não escapa do panorama social do país. Essa foi a nossa forma de aprender e de escrever.

Mas é importante lembrar que junto às memórias vêm os sentimentos. E, ainda que seja fruto de uma iniciativa profissional e acadêmica, este livro representa, antes de tudo, a afetividade que estabelecemos com Icó. Nós, da UFCA, estimulamos o ensino, a pesquisa, a extensão, mas também a cultura. E falar/agir em cultura envolve também o reconhecimento do outro e o afeto que dedicamos ao nosso lugar.

Portanto, esta obra deve ser lida como o resultado de um trabalho universitário, como também a expressão sentimental de seus autores, que devotam a Icó e aos seus habitantes o reconhecimento de sua importância histórica para o Ceará e para o Brasil. É, de uma maneira muito singela, um presente dado àqueles que fazem da preservação do patrimônio icoense a sua lida diária.

Desejamos a vocês uma leitura prazerosa e leve, e que passeiem conosco pelas ruas, casarões e pela memória de Icó.

Ives Romero Tavares do Nascimento

Maria Bonfim Monte de Almeida

Os autores